Esse projeto é um convite para quebrar o tabu. Um canal de inspiração e de informação para quem vive o luto e para quem deseja ajudar

Manchester à Beira-Mar: mergulho nas camadas do luto

Não deixe de assistir a este filme sobre perdas tragicamente diversas que nos ajuda a entender as diferentes reações e consequências que cada uma delas nos impõe

Eu não consigo superar.”

A afirmação do personagem central do filme Manchester à Beira-Mar, que estreou no Brasil na semana passada e é um dos fortes concorrentes ao Oscar de melhor filme (e melhor ator), soa dolorosamente familiar a todos que já enfrentaram ou enfrentam o luto. A sensação de impotência diante da morte é, porém, apenas uma das muitas camadas das perdas abordadas no filme do diretor Kenneth Lonergan. A dor pode ser comum, mas a reação a ela é singular, como vimos repetindo aqui no site. E um dos muitos méritos do filme é mostrar como e, de certa forma, explicar por que há tantos e diversos lutos.

Lee Chandler (Casey Affleck) e o sobrinho Patrick (Lucas Hedges): resgate amoroso
Lee Chandler (Casey Affleck) e o sobrinho Patrick (Lucas Hedges): resgate amoroso

A história de Lee Chandler (Casey Affleck) e sua família, moradores da pequena cidade da costa leste americana, Manchester-by-the-sea, trata de sua volta à casa para cuidar do sobrinho adolescente depois da morte do irmão. O filme conta a história de uma morte precoce mas aguardada, da morte absurdamente trágica e também de mortes simbólicas, como as separações e a desistência de seguir adiante. Não há perdas fáceis . Mas há aquelas com as quais imaginamos poder lidar, que movimentam sentimentos e forças amorosas e há as inconcebíveis, que impulsionam a revolta, auto-destruição e a culpa.

É fundamentalmente da culpa e do julgamento que trata o filme, com crueza mas também com uma profunda naturalidade, que torna o absurdo quase palpável. Pode ser aterrorizante mas o espectador consegue se transportar e penetrar em uma trama de amor e fatalidade que é capaz de entender e com a qual consegue se identificar. A beleza deste drama está na vida que segue e nas oportunidades improváveis que ela é capaz de gerar. Vemos a morte entrelaçando e resgatando vidas destroçadas… pela morte. E isso é maravilhoso. Torcemos muito pela redenção de Lee, mas também entendemos seus obstáculos quase intransponíveis.

É difícil não chorar (muito) em Manchester à Beira-Mar. Mas é ainda mais difícil não mergulhar de forma profunda nas camadas dos lutos expostas para voltar à tona com uma visão mais clara do significado da vida.