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O último sopro de vida

A vida é breve, mesmo quando é longa. Conhecer a história de quem está morrendo, embora pareça uma lição amarga, é a melhor forma de aprender a viver. O best-seller do médico americano Paul Kulanithi é a indicação da semana desta série de livros para entender a morte

A photo by Dustin Lee. unsplash.com/photos/jLwVAUtLOAQ

Deveríamos falar, ouvir e ler mais sobre a mortalidade. Deveríamos procurar entender melhor a morte para, ao nos confrontarmos com a nossa própria ou a de quem amamos, estarmos mais preparados. Os livros são grandes companheiros nessa jornada e podem guiar e inspirar uma reflexão importante que deixamos sempre para depois.
Uma dessas histórias notáveis, que valem o investimento emocional (e as lágrimas derramadas em sua leitura) é a do jovem médico neuro-cirurgião Paul Kalanithi que, em seu último ano de residência médica em Stanford, Califórnia, teve seu percurso planejado interrompido, aos 35 anos, pela descoberta de um câncer agressivo que já se espalhara pelo corpo. Ao dar a notícia para um amigo, já mostrou como pretendia lidar com a nova realidade: “A boa notícia é que já vivi mais do que (Emily) Brontë, (John) Keats e Stephen Crane. A má notícia é que não escrevi nada”.
Dois anos depois, ao morrer em uma segunda-feira, dia 9 de março de 2015, rodeado pela família num leito de hospital, ele já tinha uma filha que ele e a mulher Lucy, também médica, conceberam no percurso da doença e seu primeiro e último livro pronto.

A história de Paul Kalanithi se tornou um best-seller mundial
A história de Paul Kalanithi se tornou um best-seller mundial

A história de sua vida antes e depois da doença tem a beleza, sabedoria e uma sinceridade que só se conquista diante da perspectiva eminente da morte. O melhor resumo do que podemos aprender com a leitura do livro O Último Sopro de Vida (Editora Sextante, 2016) está logo no início, no lindo prefácio de seu professor, o médico Abraham Verghese: “Prepare-se. Sente-se. Ouça o som da coragem. Perceba com é difícil revelar-se dessa maneira. Mas, acima de tudo, compreenda o que é permanecer vivo e ser capaz de influenciar a vida de outros depois que você se for. Vivemos num mundo dominado pela comunicação acelerada, com os olhos fixos em pequenas telas retangulares e atenção consumida por atividades efêmeras – mas pare um momento e vivencie este diálogo com meu jovem colega falecido, atemporal e eterno. Escute Paul. No silêncio entre suas palavras, ouça o que você tem a responder. É aí que reside a mensagem dele. Eu escutei. Espero que você possa fazer o mesmo. Este é um presente


O livro termina tão inspirador quanto começa ,com o posfácio escrito pela viúva, Lucy Kalanithi: “Este livro mostra a urgência de uma corrida contra o tempo para expressar as coisas importantes que Paul tinha a dizer. Ele enfrentou a morte – examinando-a, lutando contra ela, aceitando-a – como médico e paciente. Queria ajudar as pessoas a entender a morte e encarar sua mortalidade. Hoje, morrer antes dos 40 anos é algo incomum, mas morrer não é. ‘O câncer de pulmão não é uma coisa exótica’ escreveu Paul para seu melhor amigo, Robin. ‘Mas é suficientemente trágico e também imaginável’. O (leitor) pode se colocar no meu lugar e dizer: Então a morte é assim vista daqui… mas cedo ou tarde vou voltar para o meu ponto de vista. Esse é o meu objetivo, acho. Não o sensacionalismo de morrer, não o incentivo para colher botões de rosas, mas sim: Eis aqui o que está à frente na estrada”.