Esse projeto é um convite para quebrar o tabu. Um canal de inspiração e de informação para quem vive o luto e para quem deseja ajudar

Presente de Dia das Mães

A mãe da Lívia morreu em 2017 e este mês, no dia das mães, foi surpreendida por uma pergunta que a levou a uma reflexão muito bonita sobre o que 'vem depois' que a gente se despede de alguém que tanto ama.

Outro dia me fizeram a seguinte pergunta: “se sua mãe estivesse viva, qual seria o seu presente no Dia das Mães?”. Voltei à memória, sei lá, 10 anos, e tentei lembrar o que eu costumava dar nesse dia. Pra minha surpresa travei e fui tomada por um sentimento de desconforto. Me senti distante da minha mãe, como se não a conhecesse mais. Fiquei com vergonha e me culpei por não ter uma resposta.

O fato é que aprendi a conviver na ausência, então, sinto que, por mais inconveniente que seja a realidade, perdoei a vida por minha mãe ter estado em apenas uma parte da minha história – e que já se foram 6 anos desde a sua partida. Valho-me no direito de dizer que o tempo não se conta, se sente. Por isso eu brinco que o luto, quase sempre, é um disfarce de que “está tudo bem”. É um esquecimento proposital, um fragmento da memória adormecido por um certo período.

Às vezes, desprotegida, racionalizo a perda, a morte, e sou consumida por uma dor profunda. Procuro honrar meus sentimentos, fazer uma ressonância da vida e suas lições. Como disse Elizabeth Kubler Ross no seu best seller Roda da Vida, “não se cresce quando tudo está perfeito… a dor é uma dádiva com um objetivo”. Esse é o encanto da vida, a medida em que somos postos a prova, nos conhecemos mais e melhor.

A verdade toda é que a partida da minha mãe me permitiu florescer. O que me faz compreender que a vida material é uma parcela pequena da existência total de uma pessoa, e minha mãe, no seu plano espiritual, é substancialmente importante pra mim hoje. Os caminhos que escolho e percorro sozinha me dão sentido e propósito, algo que por excesso de amor, se perdia nos dela enquanto viva.

Concluo que a minha dificuldade em responder não se deu por conta do presente, mas, sim, por quem eu seria se minha mãe estivesse aqui. Ainda que perturbadora e ao mesmo tempo mágica essa reflexão que faço, a suprema lição que levo é a de que a maior finalidade da vida é crescer. Portanto, presente fisicamente ou não, o maior presente que eu posso dar pra minha mãe hoje é o fruto da minha existência. E isso me responde tudo.

Lívia Cegal é paulistana, designer e fã de literatura. Encontrou na escrita uma forma de se expressar e levar adiante certas reflexões.