Quero ajudar - No trabalho, Um amigo
Não tem comparação
“Nós podemos tentar ‘medir’ o nosso luto para justificar a profundidade da nossa dor, ou para nos lembrar que poderia ser ainda pior. Mas tentar estabelecer uma hierarquia de sentimentos não faz bem algum.” – quando li essa chamada no site american Modern Loss, que assim como o Vamos falar sobre o luto? trata o tema do luto sem tabu e com muito carinho, logo me lembrei de um dos primeiros aprendizados que tivemos no começo do nosso projeto.
Cada luto é singular.
Não pode e nem deve ser comparado.
Para quem não sabe, uma das primeiras atividades que realizamos – bem antes desse site existir – foi pedir para que conhecidos e estranhos relatassem sua experiência de luto para um estudo. Naquele momento, final de 2014, não sabíamos ao certo como poderíamos ajudar outras pessoas e tivemos a ideia de começar ouvindo mais gente e em seguida levamos nossas percepções para especialistas no assunto.
Em poucas semanas, recebemos mais de 170 emails com relatos abertos e muito emocionantes de várias partes do país. Algumas pessoas haviam passado por perdas recentes, como o pai que contou do suicídio do filho ocorrido há menos de um mês. Outros resgataram memórias de 20, 30 e até 40 anos.
Apesar de encontrarmos vários sentimentos e acontecimentos compartilhados, entendemos após a primeira dezena de depoimentos lidos que cada história de amor era única e assim era cada luto vivido.
Ficou claro como “o luto” é uma abstração: cada um vive o seu, ou os seus. E mesmo quem passou por mais de uma perda – e recebemos algumas histórias assim, inclusive o meu próprio depoimento – se refere aos lutos, no plural. Cada perda gera sentimentos e reações próprias pois depende da relação com quem foi e também do momento de vida, da rede de apoio, da personalidade e fé, etc.
O curioso é que, apesar da singularidade do luto ser uma obviedade para terapeutas e especialistas, para o senso comum muitas vezes é ‘uma coisa só’. Talvez o desconhecimento sobre o tema faça com que muitos vejam o luto como uma experiência única. Ou, em outros casos, como meia dúzia de experiências ordenadas em uma hierarquia de valor, sendo a perda de um filho inegavelmente a experiência mais difícil. Mas como nos alerta o artigo do Modern Loss, não ganhamos nada ao tentar medir e hierarquizar o sofrimento do outro. Pelo contrário, apenas quando entendemos as singularidades de cada experiência é que conseguimos realmente praticar a empatia e acolher o processo de cada um.
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Para quem lê em Inglês, conheça o trabalho da Rebecca Soffer e Gabriela Birkner, fundadoras do Modern Loss.