Esse projeto é um convite para quebrar o tabu. Um canal de inspiração e de informação para quem vive o luto e para quem deseja ajudar

Homem não chora?

No dia a dia dos hospitais e cemitérios é mais comum ver visitantes mulheres do que homens. Na literatura de luto, grande parte dos autores best-sellers são do sexo feminino. Por que que a gente é assim?

Outro dia, navegando à deriva na internet, me deparei com um texto antigo do Doutor Drauzio Varella que diz o seguinte:

“Se você só tem filhos homens, não tem mãe nem irmãs, reze para morrer antes de sua esposa. Se acontecer o contrário, meu amigo, é provável que seus últimos dias sejam passados com estranhos. Vá aos hospitais. A probabilidade de ver um acompanhante do sexo masculino é mínima; ao lado de um doente internado, haverá sempre uma mulher, seja filha, esposa, irmã, mãe, nora ou amiga.

 (…)

 Em mais de quarenta anos de medicina, assisti a tantas demonstrações de empatia e solidariedade feminina com as pessoas doentes, que aprendi a considerar as mulheres seres mais evoluídos do que nós.”

opf2pdcckdw-matthew-henryÉ verdade que os assuntos do morrer parecem mais fáceis para as mulheres. Aqui no “Vamos Falar sobre o Luto?”, de cada dez pessoas que acessam o site, oito são do sexo feminino. Com o meu trabalho em cemitério posso atestar que no dia a dia há mais mulheres debruçadas sobre sepulturas do que homens. E a literatura de luto, gênero de enorme sucesso nas livrarias, também comprova a tese de que elas parecem ter mais facilidade para falar sobre o assunto do que eles.

Joan Didion (“O Ano do Pensamento Mágico”), Isabel Allende (“Paula”) e Cheryl Strayed (“Livre, A Jornada de Uma Mulher Em Busca do Recomeço”) são apenas três exemplos de autoras que encontraram na literatura uma maneira de encarar a morte e o próprio processo de perda. É claro que também há livros sobre o assunto lançados por homens, mas considerando os best-sellers do gênero a participação feminina é infinitamente maior.

Tenho dedicado muito pensamento a essa questão. Seríamos nós, mulheres, mais talhadas para lidar com a morte por vivermos no próprio corpo o dar à vida, ou seja, a gestação e o nascimento? Argumentos como esses fazem tremer as feministas, pois alimentam a ideia de que a natureza explicaria (e justificaria) comportamentos e crenças que elas consideram construídos socialmente. Não tenho a ambição de responder a essa pergunta tão complexa aqui. Pelo contrário: adoraria ouvir o que quem nos lê tem a dizer. Por que há mais mulheres do que homens nos hospitais, nos cemitérios? Por que elas falam, escrevem e leem mais sobre o luto? Por que? Por que? Por que?

Passo a palavra a você, leitora ou leitor. E sou toda ouvidos.