Esse projeto é um convite para quebrar o tabu. Um canal de inspiração e de informação para quem vive o luto e para quem deseja ajudar

Quando a presença é realmente mais importante do que o presente

Como enfrentar a falta do pai nos Dias dos Pais.

O Dia dos Pais é uma data mais do que importante para todos nós da família brasileira. Esse nosso jeito que costuma trazer as emoções a flor da pele, festeja o pai e a mãe como os alicerces para uma vida segura e protegida.

Na minha família não é diferente: pai e mãe são os exemplos maiores desse amor. Minha mãe tem 95 anos e vive abraçada pelos filhos, netos e bisnetos. Há mais de 30 anos, entretanto, meu pai partiu deixando, para todos nós, um grande exemplo de que é possível batalhar e enfrentar a vida com bom humor e perseverança. Não desistir nunca, esse é o recado que a vida dos meus pais deixa para mim.

Foi com essa estrutura emocional que enfrentei (da forma como foi possível), a perda do meu filho Paulo, aos 28 anos. Paulo era casado com a Anna Luiza e tinha um filho de 9 meses, o Rodrigo, meu neto amado. E isso sim preocupou e mobilizou a todos em sua volta. Rodrigo cresceria sem essa referência tão fundamental.

Hoje, Rodrigo tem 8 anos e realmente o Dia dos Pais na escola já lhe rendeu muito choro e tristeza. Questiono, em primeiro lugar, a existência dessa comemoração na escola, em nome dos “Rodrigos” que acabam por sentir mais essa ausência essencial. Por isso comemoro as escolas que ultimamente trocaram o Dia dos Pais e o Dia das Mães pelo Dia da Família. Me parece muito mais adequado ao brasileiro cujas famílias, vamos combinar, está ficando uma mistureba maravilhosa, um mosaico de combinações amorosas.

Mas de qualquer forma, hoje é o Dia dos Pais e o Rodrigo não vai poder abraçar seu pai ou escrever aquela cartinha que acompanha o abraço. Em vez disso, nós o abraçamos e contamos a ele, o imenso amor que seu pai tinha por ele e que pode demonstrar por tão pouco tempo nessa vida, embora meu coração de mãe e avó acredite verdadeiramente que ele, de algum lugar, olha por nós e especialmente pelo Rodrigo, seu moleque adorado.

Agradeço o fato de o Paulo ter conhecido o sentimento de ser pai e ter vivido isso intensamente pelo tempo que estiveram juntos, porque eu nunca o tinha visto tão feliz e completo. Mil planos e uma ansiedade de mostrar e “ensinar” o mundo para o seu filho que chegava. Em um dos nossos encontros de família, Paulo me levou um livro de presente com um cartão que dizia: “mãe, gostaria que esse momento da nossa família durasse para sempre. Que tudo continue exatamente como está”. Infelizmente as coisas mudaram sim e logo ele partiu.

Rodrigo no colo de seu pai, no dia do seu nascimento e Artur, seu tio.

Mas a casa dele está aqui e sempre estará. Tanto eu quanto sua irmã, a Gabriela, gostamos de achar que essa casa continua sendo do Paulo e agora do Rodrigo. Toda quinta-feira buscamos o Rodrigo na escola, ele dorme com a gente e na sexta o levamos para a escola. Esse hábito foi trazendo uma intimidade gostosa. Ele sente que aqui também é sua casa.  E é aqui que tentamos deixar o Paulo mais presente em sua vida. Sempre que possível e de forma natural, o Paulo se faz presente na parede de suas fotos, nas histórias que a gente conta, quando andamos a pé e passamos pela escola que o pai estudou.

Os amigos do Paulo também frequentam minha casa. Na data do seu aniversário, fazemos uma festinha, como a gente sempre fazia aqui em casa. O Rodrigo está sempre presente com sua mãe e encontra a galera, tendo assim, mais um pouco do seu pai ganhando formato em seu coração.

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Rodrigo no colo dos amigos do pai, Paulo.

 

Paulo, meu filho, como seria precioso te abraçar hoje e te ver com seu filho. Como ganha sentido para mim a ideia de que vale mais o abraço e a presença do que o presente. Provavelmente eu estaria arrumando tudo para esperar vocês que chegariam fazendo barulho, colocando música e contando as novidades do trabalho e dos amigos.  Mas como disse filho, você está presente em cada minuto desse domingo que também é seu dia, aonde quer que você esteja. Te amo infinito e para sempre. E sei que seu filho também te ama. Saiba que farei de tudo para esse amor estar presente. A própria genética também ajuda: você e o Rodrigo são muito muito muito parecidos: mesmo corpo, mesmas sardinhas, mesmo cabelo, mesma expressão, mesma mão e pé. Mas o que mais me alimenta e me impressiona filho, é que o Rodrigo é brincalhão como você – mesmas piadas, mesmas brincadeiras, mesma inteligência. Você sabe né? Nem sei porque estou te contando isso, você sabe tudo.

Sigo agradecendo sua vida que tanto amor e felicidade me trouxe. Agradeço, mais do que tudo, o presente de você ter nos deixado o Rodrigo e a Anna (com sua família maravilhosa) que hoje fazem parte da nossa. Por onde olho eu só vejo amor e é esse amor que alimenta o Rodrigo, seja hoje, no Dia dos Pais ou em todos os outros dias, quando você também está presente. Rodrigo, estaremos sempre do seu lado te lembrando que você foi o maior presente que seu pai ganhou na vida.