Esse projeto é um convite para quebrar o tabu. Um canal de inspiração e de informação para quem vive o luto e para quem deseja ajudar

Beleza colateral

A urgência em expressar a dor e a busca pela renovação depois da perda do grande amor viraram poesia e aquarelas na vida de Gianpaola. Sua história nos revela como a beleza pode surgir no meio da dor

010 - Luar-2

Pode haver beleza no luto? O termo aparece no título de um filme de 2016, que retratava o trajeto de um homem em depressão pela perda da filha.  No Brasil, o filme, estrelado por Will Smith, chamou-se Beleza Oculta. Mas o título original, Collateral Beauty,  define melhor esse efeito improvável que pode surgir em conseqüência da dor. Aqui neste espaço já mostramos histórias de muitas vidas renovadas pela beleza colateral. Foram diversos e tocantes os relatos de pessoas que se reinventaram com trabalhos criativos, lindos e poderosos inspirados por suas perdas.  Na história de hoje, a transformação veio em forma de poesia e pintura. Ao perder o marido, James, em 2014, aos 58 anos, vítima de uma doença neurológica, a historiadora da arte e empresária Gianpaola Whitaker Guidotti , viu seu coração se partir de dor. Por algum tempo, deixou todas as lágrimas inundarem o corpo e a alma e então entendeu que era hora de deixar o grande amor partir e abraçar tudo o que amava. Adorava dançar, e foi dançar. Gostava de pintar, virou pintora. Vinha escrevendo cartas em um diário para o marido, passou a fazer poesia. Em julho deste ano, lançou seu primeiro livro de poemas “Para ele e outras histórias”, ilustrado por suas aquarelas. Ela nos conta como foi o seu processo transformador:

 

  A pergunta que mais ouço desde que lancei o meu livro  foi quando comecei a pintar e a escrever. Mais que escrevê-lo, foi ele que me escreveu. Havia uma urgência da minha alma em expressar o amor, o luto, a procura de renovação depois da perda do meu marido.

Escrevia diariamente para o James em forma de conversa e de cartas, uma correspondência “endereçada” ao Universo. Sabia, porém, que devia largar, deixá-lo ir e recomeçar. Fui tirando pouco a pouco lembranças, retratos, a aliança…e chegou a hora em que, se quisesse dar um passo para continuar a viver (sim, porque parece que vamos nos desfazer) tinha que parar de escrever para ele. Deixar o diário foi a coisa mais difícil. Esse vazio foi a porta da poesia, que passou a brotar como de uma nascente da terra. Vinham de sonhos, associações, músicas, ou simplesmente uma gaveta aberta que ainda guardava um bilhete amoroso ou um simples recado.

Assim nasceu o “Pare ele e outras histórias”. Tive muito incentivo para publicá-lo. Senti que seria um marco, de certa forma uma superação.

 

Me senti viva novamente nessa perene busca, criativa, com mais consciência, e espero mais amorosa e empática também.

 

 

Seguem aqui um trecho lindo de uma de suas poesias. Escolhi esta porque fala muito sobre aquilo que queremos quando estamos tristes. Apenas ficarmos tristes.

 

 

 

Me Deixa

 

Quero ser triste hoje

Por favor me deixem chorar

Se quiserem me dizer algo

Me perguntem somente se aceito um chá

 

Não me dêem conselhos sábios

Não me lembrem de tudo que tenho e devo ser feliz

Tenho algo ainda lá dentro

Que precisa se diluir

 

(…)