Inspiração - Reflexões
Você gosta de olhar as fotos de quem partiu?
“Olhar uma foto pode ajudar você a se conectar com a presença interna da pessoa amada. Para algumas pessoas, no entanto, a imagem remete à falta e isso causa sofrimento, diz o psicólogo Carlos Carvalho. As diferentes reações são compreensíveis, como revelam as outras duas respostas da nossa enquete, por ordem de preferência: “sim adoro, vejo sempre” (42%) e “não, me deixa muito triste, prefiro evitar” (12%).
A partir desse resultado fomos tentar entender se alguma das atitudes seria mais benéfica no processo da elaboração do luto. O consenso é de que não existe um jeito que ajuda mais ou outro que ajuda menos. Existe, como na maioria das situações que envolvem o luto, a necessidade de respeito absoluto ao desejo de cada um. “Não tem certo ou errado” diz a psicóloga Elaine Gomes dos Reis Alves, do Laboratório de Estudos sobre a Morte da Universidade de São Paulo. “Mais importante do que entender se as fotos das pessoas queridas vão deixar o enlutado mais triste ou feliz, é respeitar a vontade de quem perdeu alguém vê-las ou não. É autorizá-las a fazer o que desejam. É tão natural que queiram vê-las para entrar em contato com a imagem de quem partiu quanto compreensível que se emocionem e prefiram, por algum tempo, evitá-las”, diz a Dra Elaine. No entanto, é fundamental, mesmo para aquele que prefere não olhar as fotos num primeiro momento, conservá-las, mantê-las à disposição para quando quiserem acessá-las. “O que faz bem,” diz a psicóloga, “é saber que pode tomar as próprias decisões. Hoje a pessoa não quer ver, mas em algum momento vai querer. As fotos ou filmes estarão lá para isso. O enlutado vive um momento, logo a após a morte da pessoa querida, muito fragilizado. Está muito vulnerável às opiniões alheias. A maior parte das pessoas com quem trabalhei em consultório que diziam querer descartar fotos e pertences o faziam, na maioria das vezes, por terem sido aconselhadas a isso por quem acredita que agindo dessa maneira vai amenizar o seu sofrimento.”
As fotos e filmes são importantes porque, além de registrarem imagem da pessoa querida, cumprem o maior desejo de todos que perderam alguém que amavam: não permitir que sejam esquecidas. “Uma das atitudes que tem ajudado em casos de perdas gestacionais tardias ou óbitos neonatais é deixar que os pais passem um tempo com o filho e se desejarem, fazer uma foto do bebê”, conta dra Elaine. “Até pouco tempo, no caso de bebês natimortos ou mortos no parto orientava-se os pais a nem verem os filhos. Isso felizmente mudou e hoje eles são incentivados a pegá-los no colo, vesti-los e passar um tempo com eles. Os pais que fazem uma foto desse momento relatam depois sentir um conforto a partir da imagem feita, enquanto os que não tem uma foto dizem que lamentam não ter um registro do filho”diz a psicóloga.