Inspiração - A gente indica
Existe hora certa?
Existe hora certa para morrer? Do que depende a noção de que a vida já teria sido “suficiente” (o que, imagina-se, traria algum conforto ou ao menos um certo alívio para a angústia que é pensar sobre a própria morte)? Foi essa a pergunta que se fez o médico oncologista e colunista do site americano The Atlantic, Ezekiel J. Emanuel, em artigo publicado anos atrás.
Se o diálogo sobre o luto já é um grande tabu, pensar sobre a própria finitude é um desafio tão grande quanto. Depois de muito refletir, o médico definiu para si um número exato de anos que seriam o ideal a ser vivido: 75. O argumento que ele traz tem a ver com a ideia de “realização”. Uma vez que as suas capacidades físicas e mentais começam a diminuir a partir de uma certa idade, é pouco provável que faça contribuições que julga serem importantes em diferentes esferas. Emanuel defende que a vida perde muito do que faz valer a pena viver depois de uma certa idade. “Aqui está uma simples verdade a que muitos de nós parecem resistir: viver muito tempo também é uma perda”, diz ele.
Quando pensamos sobre a morte ou estamos vivendo o luto a questão da “valia” sempre aparece. É comum ouvir frases como: “fulano partiu cedo demais” mas, afinal, o cedo ou tarde são pontos de vista individuais. É melhor viver os últimos dias com alguma debilitação já tendo passado dos 90 anos ou partir “inesperadamente” e inevitavelmente pegar muita gente de surpresa? Não existe resposta fácil nem muito menos definitiva. O ponto interessante que o artigo propõe é que a gente simplesmente se aproxime um pouco mais da ideia de finitude – e faça as pazes com ela.