Esse projeto é um convite para quebrar o tabu. Um canal de inspiração e de informação para quem vive o luto e para quem deseja ajudar

15 Coisas que aprendi trabalhando em um cemitério

Conviver com a morte todos os dias garante boas lições sobre como viver a vida (e as perdas) com mais amor e empatia

Cemitério Primaveras, em Guarulhos.

Já contei aqui no VFSOL que trabalho em um cemitério. E já faz 15 anos!

Convivendo com a morte praticamente todos os dias ao longo de todo esse tempo, posso dizer com convicção que esse trabalho mudou a minha vida. Já tive vergonha, já tive medo e hoje tenho um baita orgulho da minha profissão.

Essa semana fiz um exercício com meus colegas de refletir sobre o que aprendemos por trabalhar no segmento funerário e cada um contou um pouco da própria experiência. Divido com vocês a lista com alguns dos principais aprendizados.

Aprendemos:

  1. Que cemitério não é sinônimo de tristeza – é também lugar de amor, de saudade, de memória;
  2. Que a presença de pessoas queridas nos velórios traz conforto para a família do falecido – velório cheio dá notícia de que aquele que está partindo foi amado, deixou sua marca no mundo e vai sobreviver nas lembranças de muita gente;
  3. Que choro não significa dor e risada não significa alegria, pois há dores que se manifestam num sorriso e certas alegrias se escondem nas lágrimas;
  4. Que falar da pessoa falecida faz bem porque permite que mesmo na ausência ela se torne presente;
  5. Que as homenagens (discursos, oferendas, etc) aliviam a tensão no momento da despedida porque qualquer manifestação que nos ajude a colocar palavra ou imagem nas emoções é uma forma de digeri-las;
  6. Que o que é importante para uma família pode não ser para outra (ver ou não o corpo, realizar ou não as homenagens, velar o falecido a noite toda ou não) e isso deve ser respeitado;
  7. Que não se compara a dor da perda de cada um porque cada pessoa sente à sua maneira e em tempos e intensidades diferentes;
  8. Que o funeral é um ritual de passagem e que ele ajuda no processo de compreensão da transformação que a morte de uma pessoa querida gera na vida de quem fica;
  9. Que diante do sofrimento as formas de comunicação entre as pessoas se ampliam – basta estar presente para ajudar quem passa pelo luto (ou seja, se não há o que dizer não diga nada, apenas esteja por perto!);
  10. Que passar a informação certa e precisa àqueles que estão sofrendo organiza quem está emocionalmente desorganizado – lidar com questões práticas pode ser muito violento para quem acaba de perder alguém;
  11. Que somos frágeis diante da morte, independentemente de classe social, idade, cor, religião – diante dela somos todos iguais;
  12. Que mesmo quem convive com a morte todos os dias (como os funcionários dos cemitérios) não estão livres da dor da perda – para essa dor não existe aprendizado e cada perda tem lá seus próprios desafios;
  13. Que diferenças não resolvidas com quem se foi traz uma enorme culpa para quem fica – a hora de dizer às pessoas amadas que elas são importantes acima de qualquer coisa é AGORA.
  14. Que uma perda é um ponto de partida para uma vida nova, uma vida sem aquele que se foi e que ainda precisa ser “inventada”;
  15. Que nós, seres humanos, temos dentro de nós um grande potencial de empatia e amor. É como diz a sabedoria popular: Gentileza gera gentileza e amor com amor se paga!