Inspiração - A gente indica
Viva – a vida é uma festa
Levei meu filho de seis anos hoje ao cinema para assistir Vida – A vida é uma festa. Estou deitada há duas horas tentando dormir e não consigo relembrando passagens e refletindo sobre perdas, então resolvi fazer algo de útil e escrever sobre o filme, na esperança de encorajar mais pais a levarem seus filhotes. Li também a notícia de que a animação ganhou merecidamente o Globo de Ouro e fiquei ainda mais contente com o meu programa dominical.
Desde que o meu pai faleceu em 2015, a morte passou a fazer parte do meu dia a dia. Foi uma perda da inocência, um processo doloroso. O luto, por questões culturais, ainda é muito solitário no nosso país e, apesar de redes de apoio como o Instituto Entrelaços, que muito me ajudou, são poucos os ambientes e pessoas que nos acolhem na necessidade de falar sobre o tema.
Falo com naturalidade sobre o avô para os meus filhos, já levei o primogênito Felipe ao cemitério, mas fico sem respostas para muitas de suas perguntas como a que ele me fez diante do túmulo: “Se o vovô é uma estrelinha, como ele pode estar enterrado aqui?” Tive poucos segundos para desenvolver a resposta de que ele está nos dois lugares, e explicar a diferença do corpo físico, pele, osso, órgãos, para a alma, que são os pensamentos, os sonhos, os sentimentos. A versão da estrelinha foi adequada, possível aos 4 anos, mas agora com 6 será que ele já não está pronto para absorver mais verdades?
Voltando ao filme, acho que presta um grande serviço à sociedade introduzindo um assunto que é tabu para muitos adultos de forma lúdica, leve e esperançosa para as crianças. O “outro lado”, o mundo dos mortos da trama, é um lugar tão especial que o Felipe me perguntou se era lá que o avô estava. Nova saia justa onde achei melhor dizer “não sei”, mas que torcia que sim, que fosse um lugar lindo e especial como aquele.
A mensagem que mais me comoveu foi a importância dos vivos honrarem seus antepassados, pois para que os mortos vivam no mundo dos mortos, precisam ser lembrados, importar pra alguém, senão simplesmente deixam de existir. Super spoiler eu dizer isso, né? É por que essa é uma preocupação constante pra mim. Penso no meu pai todos os dias, mas o que estou fazendo para deixar a memória dele viva para os meus filhos?
O filme celebra a cultura mexicana e lá o Dia dos Mortos é comemorado em um dia de festa e alegria muito além dos muros dos cemitérios. Gostaria que o nosso Finados fosse mais assim…