Inspiração - A gente indica
As decisões difíceis do momento da partida
Acompanhar o final da vida de um doente terminal envolve a tristeza e angústia do luto antecipado. E também conversas, conflitos e decisões difíceis. Sãos alguns desses momentos intensos mas ao mesmo tempo amorosos e delicados que o curta-documentário A Partida Final, dirigido por Rob Epstein e Jeffrey Friedman, recém-lançado na Netflix, retrata através de personagens que se despedem da vida com suas famílias, equipes de médicos e cuidados paliativos.
As histórias reais foram filmadas em São Francisco, Califórnia, e mostram cenas de um hospital e de um hospice. São dois espaços de assistência da alta qualidade com papéis distintos: enquanto o hospital trata de preservar e prolongar a vida, o hospice está na etapa seguinte, onde se abre mão dos tratamentos que não deram resultado e se cuida do paciente com carinho, conversas e supressão da dor.
Não é fácil para a família de Mitra, uma mulher de 36 anos com um câncer em estágio avançado, responder aos médicos se preferem mantê-la no hospital, transferi-la para um hospice ou levá-la para morrer em casa. Deixar o hospital significa para o marido e para a mãe abandonar as esperanças da cura. “O hospice significa a morte e eu não quero isso para minha filha”, resiste a mãe de Mitra. Um dos médicos responsáveis pelo caso tem uma opinião interessante sobre a decisão que a paciente pode ter ou não condições de fazer por si mesma: “Pessoas saudáveis pensam em como querem morrer, fantasiam com cenários de praia ou montanhas. Pessoas doentes só querem continuar vivas”.
Um dos personagens fascinantes do documentário é o médico B. J. Miller, especialista em cuidados paliativos que atua no Zen Hospice Project. O dr. Miller fala de dor e aceitação do sofrimento com conhecimento de causa: ele sofreu um acidente aos 19 anos que o levou a amputar as duas pernas na altura do joelho e parte de um braço. Com um sorriso cativante e olhos brilhantes ele fala sobre a necessidade de não fugir das coisas difíceis: “Quando parei de me comparar com o que eu era antes do acidente, quando me aceitei inteiro, eu parei de sofrer. Temos que reinventar a nós mesmos quando alguma coisa dá errado.” diz Miller. Em outra cena, diante de uma paciente que afirma não conseguir “fazer amizade com a morte porque ama viver”, ele diz que não é necessário “ser amigo da morte” mas estabelecer com ela uma relação mais próxima que a torne menos sombrio o abismo da passagem. Pensar e falar na morte, diz, é tornar o desconhecido menos assustador.
Aprender com quem está próximo nos ajuda a ter menos medo dela. E é essa reflexão que A Partida Final nos inspira a fazer.