Inspiração - Como eu me sinto
Para entender o luto
A gente já falou algumas vezes aqui que o processo do luto não é uma linha reta com começo meio e fim. Ou melhor, tem começo e meio, mas o fim é algo obscuro e imponderável. A gente pensa que chegou lá, mas não. Voltamos, por qualquer razão, muitas casas. Não importa quanto tempo já tenha se passado.
Costumamos usar, para descrever a instabilidade desse percurso, a imagem da montanha-russa, em que, depois da subida e dos momentos de aparente estabilidade, vem quedas vertiginosas que nos surpreendem, disparadas por gatilhos imprevisíveis.
Pois nessa tentativa de representar grafica e emocionalmente a complexidade do luto, acabo de conhecer uma figura muito elucidativa: a bola na caixa com o botão de disparo.
O desenho muito simples viralizou em uma thread (ou fio, como se chama uma sequência de posts no twitter) publicada uma jovem canadense, Lauren Herschel, de quem tomo emprestadas a arte e as legendas.
1- Tem uma caixa com uma bola dentro. E um botão de dor.
2- No início do luto, a bola é enorme. Você não consegue mover a caixa sem que a bola toque e dispare o botão da dor. Você não tem controle: dói o tempo todo. E às vezes parece que nunca haverá trégua.
3- Com o tempo, a bola fica menor. Ela, portanto, toca no botão cada vez menos, mas quando o faz, a dor é igual. É melhor porque você pode viver sua rotina mais facilmente. O lado ruim é que como a bola só toca o botão de vez em quando, você nunca está preparado: é pego de surpresa.
4- Para algumas pessoas, a bola nunca vai embora. Ela pode tocar o botão cada vez menos e você tem mais tempo de se recuperar entre os disparos.
A autora dos posts, que perdeu a mãe, termina dizendo que essa foi a melhor descrição do luto que ela teve na vida. Eu concordo.