Esse projeto é um convite para quebrar o tabu. Um canal de inspiração e de informação para quem vive o luto e para quem deseja ajudar

Tristeza e alegria são fios da mesma trama

A escritora americana Nora Mcinerny ficou viúva no mesmo ano em que sofreu um aborto e perdeu o pai. Desde então, escreve e dá palestras sobre como ser feliz novamente (como ela é) não significa deixar para trás o amor, a tristeza, as memórias e a consciência da enormidade da perda vivida.

Qual foi a pior coisa que você ouviu depois de perder alguém querido?

Bola pra frente! Você tem que seguir adiante! Deixar para trás!

Se você fizer essa pergunta para qualquer enlutado, em diferentes estágios de seu processo, essas serão as respostas mais comuns. E mais insensíveis. Nestes tempos de reclusão forçada que, para muitos de nós, pode agravar a tristeza da saudade mas também permitir um mergulho sereno nas reflexões sobre nossos sentimentos, vale a pena assistir ao TED talk da escritora americana Nora Mcinerny. E conhecer o que ela tem a dizer a respeito dessa compulsão que as pessoas tem de querer se livrar o mais rápido possível da dor alheia. Sua palestra é comovente, inspiradora e, acredite, divertida.

 

O luto é muito desconfortável. Principalmente para os outros. Por isso, tão logo têm uma oportunidade, tratam de olhar em torno, identificar pessoas que também tenham passado por perdas semelhantes para empurrá-los uns para os outros , juntar suas dores e, de preferência, evitar espalhar sua tristeza para alguém mais”. A autora fala por uma dura experiência própria. Num mesmo ano, 2014, sofreu um aborto, perdeu o pai e, meses depois, o marido, Aaron, com quem tinha um filho de apenas 2 anos.

Mcinerny tem uma visão muito clara sobre “deixar para trás”. Tem hoje uma vida que, sob muitos aspectos, é maravilhosa: casou-se novamente com um homem brilhante e amoroso e vive com o seu filho e os três filhos do parceiro em uma casa confortável em uma linda cidade do estado americano de Minnesota. Tem o que descreve como “uma vida muito, muito boa”, sem ter jamais deixado sua história de luto e seu grande amor, Aron, para trás.As pessoas que amamos estão tão presentes na nossa vida, que é muito difícil até mesmo usar o tempo do verbo no passado para nos referirmos a eles. Aron é, ele é porque ainda é. Ele é presente na minha vida, no trabalho que faço. Eu segui em frente. Com ele.” E, como gostar de reforçar, não se trata de uma postura ou visão particular. As pessoas enlutadas com quem conversa, conta, não se fecharam em torno de suas perdas nem fizeram delas o centro da sua vida. Elas continuaram. Com eles.

Quando for a sua vez de estar na primeira fila do funeral”, diz Nora (sim, todos estaremos lá em algum momento), “você vai entender que não está simplesmente experimentando um momento no tempo. Você foi tocado por algo crônico, incurável.”

Algumas coisas, como ela diz, não podem ser consertadas. E nem devem ser curadas.

Ter outro marido, ou filhos, netos e alegrias nos faz entender a enormidade da perda que tivemos. Tristeza e alegria não são forças opostas, mas fios da mesma trama. Com as quais seguiremos em frente. Para sempre.