Quando era criança, eu morava atrás do Cemitério do Araçá, numa rua calma do bairro do Pacaembu, em São Paulo. Costumava me aventurar com meus irmãos por suas alamedas, caminhar e observar os jazigos. Gostava de ler os nomes das famílias dos falecidos ali sepultados e olhar suas fotos (era comum colocarem um retrato do morto nos túmulos). No Dia de Finados, minha rua se movimentava, repleta de gente e vendedores de flores. Na minha memória, aquele cenário se aproximava de uma celebração tão festiva como a do tradicional Dia dos Mortos, no México, e nada tinha de lúgubre ou assustador. Era, até onde eu me lembro, como a morte e seus ritos e espaços deveriam ser: naturais.

Essa naturalização começa na infância. Desde que criamos este espaço de acolhimento e conversa, há 5 anos, temos falado sobre o tabu em torno da morte e suas tristes conseqüências para a elaboração do processo do luto na vida adulta. Afastamos a morte de casa e dos nossos filhos que crescem sem saber como agir ou dizer para ajudar quem perde alguém ou como tratar sua própria dor quando for preciso. Falar de morte e luto com as crianças não é fácil e, pelo que aprendemos com os terapeutas especializados, não é meramente intuitivo. No entanto, se usarmos a abordagem adequada, é muito menos assustador do que se imagina. Tanto para o adulto que leva a mensagem como para a criança que a recebe.

Este Dia de Finados, em que muitas famílias prestam homenagens aos seus mortos queridos, é uma oportunidade para conduzir as crianças para esse universo sem o receio de parecer lúgubre ou assustador. Já publicamos aqui diversos posts sobre este assunto, que são excelente fonte de consulta e hoje compartilhamos mais um vídeo muito bonito e esclarecedor sobre o tema. “Como falar sobre a morte com as crianças” faz parte de uma série de minidocs de Reflexões sobre o Luto, produzida pela Fundação José Luiz Egydio Setúbal, mantenedora do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo. Neste vídeo, nossa colega Fernanda Ferraz Figueiredo, uma das fundadoras do Vamos Falar Sobre o Luto, além de psicólogas especialistas em luto infantil, relatam experiências pessoais e práticas terapêuticas que ajudam compreender e ensinam a falar sobre a morte com crianças. “Ofereça a verdade” , resume uma das terapeutas ouvidas. “Quando se omite a verdade“, diz, “a criança entende que está diante de algo tão terrível que não pode sequer ser mencionado“.

A verdade, dita de forma natural e amorosa, é a síntese dos muitos ensinamentos que este vídeo nos traz.

Este minidoc faz parte de uma série de três episódios sobre Reflexões sobre o Luto, disponíveis no canal Saúde da Infância, no YouTube.