Inspiração - Reflexões
Não ouse questionar a minha fé
A Netflix lançou uma série documental chamada “Vida após a Morte” recentemente. São seis episódios que falam sobre o que vem depois e trazem pessoas que acreditam que a consciência não se extingue quando o cérebro para de funcionar, que existe algo além, e até que é possível se comunicar com quem já se foi.
Este post não é uma recomendação da série (muito menos uma tentativa de convencer alguém da vida após a morte). Eu estou ainda no episódio 4, gostei de algumas partes e nem tanto de outras, mas ela me fez lembrar de momentos importantes do meu luto que decidi dividir aqui.
Eu perdi minha mãe e meu noivo em um intervalo de 364 dias, como eu já contei algumas vezes neste site. E na sequência conheci a Gabriela Casellato, uma profissional humana que me acolheu e me ajudou imensamente…. e que lá na frente se tornaria uma madrinha do nosso projeto. Porém, após poucos meses de terapia do luto com a Gabi, eu resolvi me mudar de cidade e assim nossos encontros terminaram (ninguém pensava em fazer consulta online naquela época). Recém-chegada ao Rio, fui em busca de um novo profissional e me indicaram uma pessoa que não era especialista em luto mas era, digamos, um psicanalista muito bem conceituado.
Naquela época eu sentia muita dor, mas também me sentia protegida. Sonhos, pequenos milagres (aquelas ‘coincidências’ que acabam significando muito para um enlutado) e mesmo sensações físicas (como a sensação de um cafuné na hora de dormir, depois de horas e horas de choro) me confortavam. Amigos me traziam mensagens espirituais que significavam muito para mim. Uma amiga querida, por exemplo, me ligou aflita uma manhã porque tinha conversado com meu noivo em sonho e queria me contar… mas que tinha uma parte do sonho que ela não compreendia. Todo mundo batia palmas para ele. Ela não sabia, mas a “coincidência” é que aquela era a noite do seu aniversário.
Acho que nunca me senti tão conectada a algo maior. E, certamente, me levantava para trabalhar todos os dias e cuidava de mim (mesmo morando sozinha) porque tinha fé. Ninguém precisa ter fé, mas no meu caso foi um alívio que eu acreditava.
Voltando ao tal psicanalista, vou ser bem breve porque minha intenção não é desqualificar ninguém, apenas falar da minha dor: fiz 10 sessões e aguardei com dificuldade chegar a décima para dizer que não seguiria mais. Ele passava cada encontro tentando desmentir o que eu contava. E mesmo quando eu falava de pessoas vivas e fatos reais, ele sempre dava um jeito de relacionar às minhas crenças e desqualificá-las.
Cruel.
Eu terminei a última sessão dizendo “como você ousa questionar a minha fé se não tem nada melhor para me dar em troca? Se eu estou bem, saudável, me cuidando, e parte disso é porque eu acredito em coisas que você despreza, você não deveria ser irresponsável de tentar tirá-las do lugar.”
Aquele episódio horrível ficou marcado para sempre.
Foi quando entendi que os enlutados precisam se posicionar.
E sempre acreditar no poder de nossas crenças neste processo.