Esse projeto é um convite para quebrar o tabu. Um canal de inspiração e de informação para quem vive o luto e para quem deseja ajudar

Estamos perdendo o que sempre fez parte da alma brasileira: amor pelo outro

Texto postado por Rita Almeida na coluna da UOL Viva Bem em 02/12/2022


Atualmente somos um país que se rachou ao meio. Não sei como foi acontecendo, mas os fundamentos dessa divisão ideológica impregnada em nossa cultura vêm da política, do preconceito, do egoísmo e da necessidade de ter razão. O Brasil está contra o Brasil.

Como o grande desejo dos brasileiros e de todos os outros países do mundo é o pertencimento e a harmonia de suas relações, cada ódio se junta com seu lado formando turmas diferentes e contrárias. Procura-se o conforto de quem carrega o mesmo ódio e intransigência. E se a política é o ponto central desse país dividido, temos também outras formas de intolerância naturalizadas, como a discriminação racial, social, etária e de gênero, a perseguição, a violência e o assédio.

Chegamos ao cúmulo de “importar” a triste ideia de massacres em nome de ideologias como o que acabou de acontecer em Aracruz, deixando quatro pessoas mortas: três professoras que passavam a vida ensinando (Maria da Penha, Cybelle Passos e Flavia Amboss) e Selena Zagrillo, uma criança de 12 anos, que tentava aprender o que é a vida. Aparentemente, a ideologia do assassino é o neonazismo, símbolo que carregava em sua roupa no momento do massacre.

Nesse e em outros episódios parecidos, o Brasil está de luto. Se uma nação é realmente uma família, como aprendi na escola, estamos assistindo à falta de compreensão e violência entre irmãos pela simples razão de pensarem diferente e estarem fechados para ouvir e principalmente respeitar o outro.

Assim, perdemos a compreensão e a paz, estamos uns contra os outros e, como diz Simone Tebet, o Brasil é muito maior do que Lula e Bolsonaro. O Brasil somos todos nós. Vamos nos ajudar a sair desse luto coletivo que é a falta de entendimento levada até as últimas consequências. Estamos perdendo algo que sempre fez parte da alma brasileira: o amor pelas pessoas. Luto maior não há.

Felizmente, esse luto pode ser resolvido, esse buraco pode ser preenchido novamente, diferente da perda real da vida de alguém próximo que amamos, essa sim, uma perda sem retorno. Porém, para combater a intolerância que atingiu um país inteiro, precisamos de múltiplas medidas, começando no âmbito individual, familiar, no nosso contexto social e no poder público. Esse último conta com alguns projetos de leis que, segundo o Portal Sigales 360, visam:

1. Prevenir a ocorrência do discurso de ódio;

2. Restringir seu alcance;

3. Restringir seu impacto persuasivo.

Espero que esses projetos ganhem visibilidade e sejam aprovados.

Enquanto os projetos de lei contra o ódio são avaliados, cabe a nós iniciar o movimento de retorno à paz. Individualmente, adotar o respeito aos direitos humanos e a dignidade do seu semelhante. Ser um exemplo de escuta e bom senso.

Como família, precisamos educar nossas crianças para que nem peguem carona nessa onda de desrespeito. Prepara-los para não serem persuadidos pelo discurso de ódio. Precisamos ser exemplo, em primeiro lugar, porque nada ensina mais do que os bons exemplos.

Entre amigos, vamos aprender a escutar, aceitar e respeitar posições diferentes como um direito de cada um. Como sociedade, o primeiro passo é desejar a paz e a harmonia, apesar das nossas diferenças. Mesmo que não pensemos da mesma forma, trocar a intolerância pelo respeito será o grande movimento que nos unirá novamente.

Apesar de o nosso site “Vamos Falar Sobre o Luto” ser um lugar de acolhimento, o luto pelo ódio nós não acolhemos, ao contrário, queremos a felicidade de um país tranquilo. A vida já nos provoca tanto, já nos apresenta tantas dificuldades que acreditamos, que, se pudermos evitar mais esse luto, estaremos nos protegendo para os que realmente teremos que enfrentar.

Por fim, lembro que o que temos de mais precioso na vida são nossas relações. São elas que nos seguram e nos fortalecem. Seria um dó perdermos muito desse suporte em função de dificuldades de lidar com opiniões divergentes (e isso sempre vai existir) ou mesmo do desejo de ter razão ou ser dono da última palavra. Nós do “Vamos Falar Sobre o Luto” acreditamos no fim do luto pela intolerância e na importância do amor e respeito às nossas relações.

 

Pra ler esses textos da autora e outros textos, acessar o link do site www.vamosfalarsobreoluto.com.br