Esse projeto é um convite para quebrar o tabu. Um canal de inspiração e de informação para quem vive o luto e para quem deseja ajudar

Como o espiritismo pode ajudar na compreensão da morte?

Rita traz seus aprendizados com o espiritismo.
Imagem: Unsplash

Texto originalmente publicado na coluna Vamos Falar Sobre o Luto no UOL

 

Minha ligação com o espiritismo de fato começou há apenas um ano e já me ensinou tanto sobre a vida e a morte que me atrevo a falar sobre esse assunto, mesmo sabendo bem pouco.

Embora eu tenha crescido católica, sempre tive simpatia e atração pelo espiritismo. Há 10 anos, quando passei pela perda do meu filho Paulo, fiz alguns tratamentos em alguns centros espíritas, buscando conforto e compreensão. Mas talvez ainda não fosse meu momento e, aos poucos, deixei de frequentar e explorar o assunto.

Há aproximadamente um ano, conheci o Paulo, meu namorado, que me levou de novo para o centro e dessa vez eu resolvi ficar. Sabia que minha mãe estava se despedindo dessa vida (o que aconteceu em setembro de 2021) e lá estava o espiritismo para me confortar.

Dessa vez, decidi estudar e descobri um mundo de informações incrível: desde os autores mais icônicos como Allan Kardec (o decodificador dessa doutrina no século XIX) e o nosso Francisco Xavier, também famoso mundialmente, até inúmeros outros autores que têm me ajudado a conhecer melhor os conceitos do espiritismo.

Mas afinal, qual a visão do espiritismo?

Essa doutrina, que está entre a ciência, a filosofia e a religião, acredita na pluralidade da existência: somos espírito e, temporariamente, estamos algumas vezes encarnados (alma). Isso mudou completamente minha visão. Eu costumava pensar o contrário, que somos um corpo que tem uma alma. Como espíritos, temos uma história de evolução e esse mundo que vivemos é um mundo de expiação e provas. A cada encarnação, uma nova possibilidade de evoluir o caminho do seu espírito. Na famosa frase de Allan Kardec: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”.

A morte é uma realidade da vida e acontece em diferentes momentos e situações. Na maior parte das vezes já vem desenhado no plano de encarnação de cada espírito. Era o tempo e o que a história dele precisava cumprir.

A parte boa da coisa, para quem perdeu algum ente querido, alguém muito próximo e amado, é que continuamos fazendo parte de um mesmo universo. Nós e quem partiu. Muitas vezes recorro a uma imagem que talvez possa representar um exercício reconfortante nas grandes perdas: imagino meu filho (minha mãe, meu pai) na minha frente crescendo e ficando grande, bem grande, bem alto. Geralmente como uma sombra, mas também pode ser com seu corpo e suas roupas de sempre. Ao imaginar aquela alma grandona, sinto que aquela pessoa continua existindo, é muito maior do que a imaginávamos e é um espírito em seu caminho de evolução. Pode abraçar, pode beijar, pode falar palavras de carinho, agradecimento, o que quiser. É uma deliciosa forma de ver quem está faltando. Imaginando-o como espírito em evolução.

Esta é minha metáfora sobre como o espiritismo se coloca diante das nossas perdas. Nós não perdemos, existimos em formas e planos diferentes. Trago para isso um trecho de um texto do blog Momento Espírita: “Mas e se os braços que desejamos abraçar estiverem distantes ou não mais presentes? O que fazer? Aprendamos a abraçar com o pensamento. O pensamento e a vontade criam outros braços e nossos amores se sentem abraçados da mesma forma”.

Isso não quer dizer que não exista sofrimento nas perdas. Sim, existe saudade, que tantas vezes corta o coração. Mas o que o espiritismo defende é que não tenhamos revolta, porque a revolta pode incomodar quem partiu e que continua conectado (em graus diferentes de apego) com quem ficou. O espiritismo acredita no poder dos pensamentos positivos e sua capacidade de ajudar até quem já partiu.

Sempre acreditei que minha melhora em relação ao luto viria da compreensão dessa vivência. E o que o espiritismo provoca em mim é a compreensão de que não me desliguei das pessoas que amo e que partiram. Continuamos conectados e sinto a presença de cada um deles. Imagino meu pai, minha mãe e meu filho juntos, assim como era quando o Paulo era pequenininho. Eles construíram uma ligação para além vida. E agora essa conexão acontece em outro plano. Mesmo supercatólica, minha mãe se imaginava sendo recebida por eles. Eu gosto muito de pensar que foi assim que aconteceu.

Eu não sei qual é a sua crença, ou mesmo se você tem alguma. Trouxe aqui o exemplo do espiritismo como algo que tem me feito pensar, me trazido amor, conforto e novas possibilidades que eu desconhecia. Por isso meu desejo não é que você acredite nas mesmas coisas que eu acredito. O que desejo é que cada pessoa que passa pelo luto consiga encontrar compreensão para essa vivência e se relacionar com a perda de uma forma branda, esperançosa e amorosa.

Essa conquista pode partir de diferentes lugares. No meu caso tem sido o espiritismo. Adoraria que vocês comentassem aqui sobre quais canais vocês se conectaram para encontrar sua compreensão e conforto sobre a vivência das suas perdas. Acho que podemos ajudar muita gente compartilhando nosso caminho de luto. Cada um do seu jeito e com suas crenças, mas juntos na possibilidade de levar, da melhor forma possível, cada dolorida separação que a vida nos impõe.