Inspiração - Como eu me sinto
Tyler Henry, o médium superstar, traz alívio aos enlutados na Netflix
Texto originalmente publicado na coluna Vamos Falar Sobre o Luto no UOL
Um médium jovem, bonitão e superstar, amigo de celebridades de Hollywood, que chama de clientes as pessoas que atende e “vale” 3 milhões de dólares (o número é uma estimativa do Celebrity Net Worth, site dedicado a levantar informações sobre o patrimônio e a vida financeira de pessoas famosas).
Diante dessas credenciais, confesso que foi com certa desconfiança que assisti à série “Vida Após a Morte com Tyler Henry”, na Netflix. O programa promove sessões com pessoas anônimas —hoje a maior parte dos clientes do médium são gente do showbusiness— escolhidas entre os mais de 300 mil inscritos na lista de espera do site dele.
A cada episódio a equipe de produção deixa claro que nenhuma informação sobre os participantes foi comunicada ao vidente, respondendo por antecipação às críticas que inevitavelmente virão. Frequentemente acusado de “vampirismo” diante do sofrimento alheio, Tyler está acostumado ao descrédito dos mais céticos.
A julgar pela edição apresentada pela Netflix, as consultas seguem todas mais ou menos o mesmo roteiro. Primeiro, o médium prova que está diante do falecido com quem seu “cliente” deseja se comunicar. Num dos episódios, por exemplo, Tyler cai na risada dizendo que o morto não para de fazer palhaçadas, insistindo em repetir uma determinada dancinha. Quando ele imita os movimentos, a mulher à sua frente se desmancha em lágrimas e confirma que aqueles gestos eram, sim, uma marca registrada do falecido.
Cada encontro traz também o relato de como o espírito em foco deixou esse mundo. Tyler garante sentir no próprio corpo sensações que revelam a condição do falecimento —dor no peito, quando se trata de infarto ou tiro, dificuldade para respirar, em caso de afogamento. Em quase todas as consultas ele diz a seu interlocutor que a passagem do falecido foi rápida, não provocou muito sofrimento e que ele vive em paz “do lado de lá”. Também são comuns os recados dos mortos aos “do lado de cá”: no geral, recomendações para que as pessoas se livrem de culpas ou outros sentimentos negativos. Dar uma espécie de fechamento ao processo de luto é, assumidamente, o grande objetivo do médium em seu trabalho.
No programa, fica evidente que aqueles que têm a oportunidade de passar por uma “leitura” (é esse o termo utilizado) conduzida por Tyler saem da sessão melhor do que entraram. Saber que o falecido está bem traz alívio, assim como confirmar que os sinais de sua presença apontam para algo real: a realidade de continuar existindo em outro plano.
Os relatos de Tyler, de certa forma, confirmam e autorizam os “milagrinhos” que as pessoas que perderam entes queridos costumam experimentar (por exemplo: achar, numa data importante, um velho e carinhoso bilhete perdido dentro de um livro). Os “milagrinhos”, agora certificados, constroem a certeza de que um dia haverá novos encontros.
Não sei se Tyler realmente vê e ouve tudo o que relata ou se ele é um craque da investigação que usa de forma maléfica aquilo que consegue descobrir. Verdade ou mentira, não importa, porque seja lá o que for, funciona, promovendo conforto e otimismo a quem muito precisa. Uma coisa é certa: o médium superstar escuta e acolhe, com respeito e delicadeza, o sofrimento de quem o procura. Quem já viveu a experiência do luto sabe que poder compartilhar a própria dor com ouvidos atentos e interessados tem um enorme valor.
E você, o que acha sobre esse tipo de conexão com o outro plano?