Inspiração - Reflexões
Aos filhos dos pais-estrelinhas
Hoje é Dia dos Pais e estou pensando nas crianças que perderam seus pais muito cedo. Aquelas crianças pra quem a gente nem sabe explicar o que é a morte e fala que o papai virou uma estrelinha. Imagino quantos olhinhos vão hoje escrutinar o céu querendo achar a sua estrelinha-pai. Ouvi, em uma entrevista recente, o viúvo do artista Paulo Gustavo contar que um dos seus filhos, com menos de 3 aninhos, olhou um dia para o céu e disse, muito bravo, que não queria que o papai Paulo tivesse virado estrelinha. Lembrei também da minha prima Rita contar que o neto Rodrigo, cujo pai, Paulo, partiu quando ele ainda era um bebê, certa vez apontou para o céu e disse que lá de cima o pai, que agora era estrela, podia ver tudo e cuidar dele aqui embaixo.
A imagem das estrelas é poderosa. Sei que alguns terapeutas não aprovam a metáfora e acham que transformar o ente querido num ponto brilhante no céu não ajuda uma criança a elaborar o seu luto. Entendo a tese, faz sentido. Mas fico com a poesia. Em algum momento das suas vidas, todas essas crianças filhas de estrelinhas entenderão que era disso que se tratava: de uma forma poética de dizer que a pessoa amada foi para algum lugar inatingível. Mas que, no entanto, podemos “ver”, sempre que buscarmos, sua luz. Pode ser uma bem brilhante que conseguimos identificar facilmente, pode ser longínqua e piscante e mudar todos os dias de lugar, pode às vezes ficar totalmente encoberta por nuvens, mas está ali, como a memória de alguém que a gente aprende a cultivar na imensidão da ausência.
A estrelinha, claro, não vai ajudar a criança calçar os sapatos, escovar os dentes, empurrar no balanço, levar para a escola ou colocar para dormir. Nenhum brilho de nenhuma grandeza vai preencher esse buraco negro. Mas, desse lugar mágico em que se encontram esses pais que partiram muito cedo, pode, porém, ensinar os olhos a buscar o invisível. E definir, como o Rodrigo, que desse ponto de vista privilegiado ocupado pelos astros, um pai vai poder estar presente na vida do filho que ficou.