Esse projeto é um convite para quebrar o tabu. Um canal de inspiração e de informação para quem vive o luto e para quem deseja ajudar

Como funciona o ritual da cremação

Assim como em outros países , cresce no Brasil a escolha por essa forma de funeral. É bom conhecer como funciona o processo para ajudar quem perde um ente querido com as devidas providências práticas

Uma das tantas coisas difíceis com as quais temos que lidar quando perdemos alguém são as medidas práticas e imediatas que a morte de um familiar ou pessoa muito próxima impõe. A primeira, por razões óbvias, é a definição e providências para o funeral. Já publicamos aqui uma breve lista de procedimentos para ajudar quem estiver encarregado dessa parte – que significa muito em termos de cuidado e acolhimento para enlutado. Uma recente experiência de participar da organização do funeral de um amigo querido me mostrou o quanto o processo da cremação ainda é desconhecido para nós aqui no Brasil (temos aproximadamente 100 crematórios em todo o país e essa opção representa hoje cerca de 10% dos funerais ). A cremação tem a vantagem de não exigir a compra de um jazigo em um cemitério, mas tem normas específicas e legislação diferente de um enterro. Para esclarecer as dúvidas mais comuns sobre tudo o que envolve o processo e o posterior destino das cinzas, conversei com uma autoridade no assunto: nossa colega co-fundadora do Vamos falar sobre o luto, Gisela Adissi, que comanda o Primaveras, grupo que reúne Cemitérios e Crematório.

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Os prazos: a primeira coisa importante a saber é que a lei brasileira impede que um corpo seja cremado antes de 24 horas desde o falecimento. Como aqui no Brasil temos a cultura da rapidez dos rituais fúnebres post-mortem e é comum que o funeral seja feito o mais breve possível, esse tempo extra pode causar algum incômodo para as famílias.

Autorização e Atestado de Óbito: em caso de morte natural ou violenta, a autorização para a cremação exige que 2 médicos assinem o atestado de óbito. O falecimento fora do ambiente hospitalar requer que o médico que acompanhava o falecido forneça o atestado. Caso contrário, o corpo deve levado ao Instituto Médico Legal (IML). Em caso de morte violenta, é obrigatório encaminhar o falecido para o IML. A lei exige uma autorização judicial para o funeral, que pode ser obtida em cartórios ou juizados que funcionam 24 horas. Apenas pais, cônjuges, irmãos e filhos podem autorizar uma cremação.

A cerimônia: depois do tempo estipulado para o velório, o caixão é fechado e levado para o local de onde será feita a cerimônia de cremação, e somente então é conduzido ao forno crematório. Para os familiares e amigos, a cerimônia termina ali, mas a cremação propriamente dita pode ser feita horas ou dias depois. Até a colocação do caixão no forno, o corpo é mantido resfriado em geladeira. O corpo resfriado pode ser conservado por até 30 dias.

O forno crematório: o corpo é cremado individualmente no forno crematório a 900 graus centígrados e o processo dura entre 1 hora e meia e 3 horas. Qualquer metal que for levado com o corpo (jóias, acessórios, etc) desaparece a essa temperatura. A exceção são os eventuais marca-passos que tem que ser previamente retirados pois explodem no forno e as próteses de platina que, com a autorização da família, serão recolhidas das cinzas e encaminhadas a empresas de reciclagem de metais. Finda a cremação restam, entre as cinzas, fragmentos de ossos que serão processados em máquinas próprias e então misturados na urna entregue às famílias. É permitido aos familiares que assim desejarem assistir ao processo de cremação ou ligar o forno. Certas culturas e religiões incluem esta prática no ritual de despedida de seus entes queridos.

As cinzas : a família escolhe, além do caixão, que tipo de urna deseja para depositar as cinzas da pessoa. Hoje já são disponibilizadas, entre as opções de material, a urna hidrossolúvel em água doce ou salgada. Há também as biodegradáveis que incluem ou não sementes que germinarão no solo. A entrega dessa urna será feita em dia previamente combinado e inclui uma nova cerimônia. Até a data agendada para a cerimônia de entrega, a urna ficará no crematório em um columbário onde fica exposta em uma estante de vidro em nichos que podem incluir adornos e objetos da pessoa falecida. Se os familiares não forem buscar as cinzas (o que ocorre em mais ou menos 10% dos casos) as urnas ficam em um cinerário , uma estante fechada. Alguns crematórios particulares não jogam fora as cinzas sob nenhuma hipótese. Se não forem recolhidas pela família serão mantidas ali para sempre.

O que fazer com as cinzas: quem decide cremar um ente querido geralmente o faz para atender um pedido da pessoa falecida. Essa decisão costuma incluir o destino das cinzas que , conforme desejo do falecido, serão espargidas em locais com significado especial. É bom se informar antes sobre as possibilidades e os eventuais impedimentos dessa prática. As cinzas pesam de 2 a 3 quilos e podem ser divididas para os membros da família que as desejarem. Se o desejo do falecido for ter suas cinzas levadas para fora do país, esse ritual vai exigir uma urna própria para exportação e documentação específica para levá-la na viagem. É proibido espargir as cinzas em determinados lugares públicos como rios, lagos, praças e pontes. Existem empresas que podem ser contratadas para colocar a urna no fundo do mar com um geolocalizador. Outras podem dividir as cinzas em pingentes e também oferecem a transformação das cinzas em diamantes ou cristais.